Saturday, October 26, 2013

Mitos sobre a Conferência “Fogo Estranho”

por Mike Riccardi
original


Enquanto a fumaça da Conferência Fogo Estranho continua a dissipar, a internet continua a queimar com várias reações do evangelicalismo digital. Existem muitas reações que são aproveitáveis, incluindo as de Clint e Eric aqui mesmo no nosso blog The Cripplegate, bem como reflexões exceptionais de Tim Challies, Tim Raymond, e Fred Butler, vindas do lado de fora do nosso blog. Você não deve perder o blog de Grace to You “Para onde vamos agora?”. Não quero também esquecer de mencionar aos nossos leitores o trabalho que foi feito aqui no nosso blog sobre esse assunto, bem antes da Conferência. Continuo vendo objeções sendo feitas que foram respondidas muito tempo atrás. Nosso artigo “O que cessacionismo não é” provavelmente é o que mais beneficiaria muitos dos críticos nesse momento.


Têm havido inúmeras reações dos carismáticos do outro lado do corredor. Infelizmente a grande maioria dessas reações têm produzido muito mais calor do que luz (apesar de existirem algumas excessões notáveis, as quais têm sido encorajadoras; é bom saber que existem alguns que entenderam o propósito da Conferência). Ao invés de se ocuparem com a substância e o mérito dos argumentos bíblicos oferecidos na Conferência, eles buscaram isolar o argumentos mais fortes da Conferência, literalmente retirando-os fora dos seus contextos, e sensacionalizá-los interpretando-os da pior forma possível. À todos os criticismos de como a Conferência pintou com um pincel muito grande, eles mesmos usaram alguns pincéis grandes enquando a substância dos argumentos bíblicos estão sendo ignorados e toda a Conferência é taxada de não ter amor e ser divisiva.

É assim que eles escolheram avançar a narrativa da Conferência. É uma estratégia criativa pois proteje as pessoas de terem que lidar honestamente com a substância dos argumentos teológicos que foram apresentados. Infelizmente o resultado dessa narrativa não tão acurada tem levado à muitos mitos que estão crescendo e se espalhando pela internet. Pensei em escrever esse artigo para endereçar apenas alguns desse mitos.

Mito 1 – John MacArthur acredita que carismáticos cometeram o pecado imperdoável

O primeiro mito que eu gostaria de eliminar é que John MacArthur acredita que todos os carismáticos cometeram o pecado imperdoável. Antes da Conferência eu poderia ter simpatizado com aqueles que estivessem na dúvida quanto ao assunto. Mas se aqueles que estão reclamando sobre o assunto simplesmente tomassem tempo para ouvir as apresentações da Conferência, eles veriam que tal acusação amonta a nada, é simplesmente um mito.

Por algum tempo MacArthur tem explicado que ele vê os acontecimentos do que caracteriza a tal “adoração” carismática como nada menos do que blasfêmia ao Espírito Santo. A frase do livro “Fogo Estranho” diz que “atribuir obras carnais ou obras do diabo ao Espírito Santo na verdade diminui (insulta) o Espírito de Deus e não o exalta, e isso é obviamente um tipo de blasfêmia.” Sugerir que é o Espírito Santo de Deus quem causa as pessoas a cair no chão, rolar como loucas, falando coisas incompreensíveis, e até mesmo grunhir e gemer e gritar e entoar sons em maneiras que refletem cerimônias religiosas pagâs, tudo isso fracassa em tratar o Espírito Santo com a reverência que Ele merece, faz pouco dEle e do Seu ministério, e é portanto uma blasfêmia.


É claro, Jesus fala sobre a blasfêmia do Espírito Santo como sendo o único pecado que nunca seria perdoado (Mateus 12:31). Então quando as pessoas ouvem MacArthur sugerir que carismáticos estão blasfemando o Espírito, a reação dessas pessoas é dizer que MacArthur está dizendo que não apenas os carismáticos não são salvos, mas que eles nunca poderão serem salvos. Michael Brown escreveu: “Portando, Pastor MacArthur, em palavras escritas e obviamente muito bem pensadas de antemão, está acusando centenas de milhões de crentes de blasfemarem o Espírito, e portanto pronunciando-os como pecadores destinados ao inferno, sendo que blasfêmia do Espírito é um pecado imperdoável.”

No entanto, na sua primeira sessão na Conferência, Phil Johnson endereçou esse assunto diretamente. Ele diz:


“Isso, é claro, não é o que John MacArthur diz, e não é o que acreditamos. Mateus 12:31 diz 'Portanto, eu vos digo: Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens.' O artigo definido “a” é significante. Nós não acreditamos que todo pecado ignorante ou acidental contra a terceira pessoa da Trindade é automaticamente imperdoável. Jesus estava respondendo a um específico tipo de blasfêmia tão deliberado e vindo de corações tão duros que ninguém jamais se arrependeria dele de qualquer forma. Note que nosso Senhor diz: “todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens” - exceto um pecado bem específico. Essa é um promessa extravagante de completo perdão e limpeza de qualquer um e todos que se arrependerem. A exceção singular é uma categoria daqueles que com coração duros odeiam a Cristo.”


Portanto, MacArthur distingue entre (a) a blasfêmia do Espírito Santo, a qual vemos nos fariseus em Mateus 12, a qual é imperdoável; e (b) blasfêmia genérica contra o Espírito Santo, a qual, apesar de ser um pecado terrível e sério, nao é obstante perdoável.

Concluindo, aqueles na blogosfera que estão acusando MacArthur de ter dito que carismáticos cometeram o pecado imperdoável e não podem mais arrependerem-se, estão simplesmente deturpando o que ele falou, não prestando devida atenção ao que tem sido dito sobre o assunto. Eles estão perpetuando um mito.
Mito 2: John MacArthur acredita que todos carismáticos não são salvos


Outro mito que está sendo perpetuado é que MacArthur declarou que todo aquele que se associa com a teologia carismática é, pela necessidade dessa associação, não salvo. Num artigo supreendentemente cheio de numerosas deturpações, J. Lee Grady acusa MacArthur de “declarar em termos não incertos que qualquer um que abraçar qualquer forma da teologia carismática ou pentecostal não adora o verdadeiro Deus.”


No entanto isto é simplesmente falso. Nenhum palestrante através de toda Conferência insistiu que todos os que se associam com a teologia carismática sejam necessariamente não salvos. Agora, certamente a alegação foi feita que muitos – e talvez a maioria – daqueles que mundialmente se identificam como carismáticos ou pentecostais não são verdadeiramente crentes. Tal fato parece ser inescapável diante de todos os dados citados ambos no livro e durante a Conferência. Por exemplo:

“Em dois terços da Ásia, África e América Latina – aonde o movimento carismático está crescendo com taxas sem precedentes – especialistas estimam que bem mais do que a metade de todos os aderentes ao movimento pentecostal e carismático acreditam no evangelho da prosperidade” (MacArthur, Strange Fire, 14).


Alguns analistas distinguem entre 'neo-pentecostal' o qual eles vêem como focado no evangelho da prosperidade, e pentecostalismo clássico, orientado na direção dos dons do Espírito tais como curas e línguas estranhas. No entanto, os dados do Pew Forum sugerem que o evangelho da prosperidade é na verdade um aspecto de todo o pentecostalismo; a maioria de pentecostais excedendo a 90 por cento na maioria dos países tem esse tipo de crença.” (John T. Allen, The Future Church, 382-83; citing this).


Mais de 90 por cento dos pentecostais e carismáticos na Nigéria, África do Sul, Índia e Filipinas acreditam que 'Deus irá dar prosperidade material à todos os crentes que tiverem fé suficiente'” (Paul Alexander, Signs and Wonders, 63-64).


Além disso, a Conferência também se esforçou para mostrar que existem mais de 100 milhões de carismáticos que se identificam como Católicos Romanos, aqueles que não apenas negam mas abominam justificação pela fé somente (conforme The Council of Trent, Canon XXIV). E mais ainda, outros 24-25 milhões de pentecostais includem aqueles que se identificam como Pentecostais Oneness, modalistas que negam a histórica e ortodoxa doutrina da Trindade – por exemplo, que Deus existe eternamente como um Ser em três pessoas iguais, consubstanciais, e eternas: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo.


Diante de tudo isso não é totalmente inexato falar de grandes números daqueles no movimento carismático como não terem o conhecimento salvador de Cristo. Se for verdade que o movimento carismático alcança supreendentes números de 500 milhões de aderentes mundialmente, e se 25 a 30 por cento deles negam sola fide ou a doutrina ortodoxa da Trindade, e se muito mais que a metade de dois terços mundiais acreditam na teologia da prosperidade/palavra de fé, não deveria ser uma declaração controversial falar que o movimento é largamente feito de pessoas que não são cristãs.


Claro, isso ofende nossas sensibilidades norte americanas, pois pentecostais clássicos e continuistas conservadores que conhecemos não se ajustam nessas categorias. Mas o que o evangelicalismo do oeste precisa reconhecer é que os John Pipers, Wayne Grudems, Sam Storms, D.A. Carsons, e Gordon Fees do evangelicalismo não são o convencional do movimento carismático. Não importa quão limitada nossa experiência de carismáticos mundias seja, não podemos ignorar os fatos de que esses irmãos são a minoria nesse movimento.


De qualquer forma, existiram várias ocasiões na Conferência nas quais MacArthur e outros palestrantes afirmaram explicitamente esses mesmos homens como irmãos. MacArthur se refere a tais homens como seus “amigos continuistas”, dizendo “[são essas] pessoas que são meus amigos – meus amigos reais que eu respeito, os quais fizeram grande contribuições à igreja, os quais me ensinaram, ministraram ao meu lado, com os quais eu orei às vezes por horas e horas, com os quais eu conversei, produzi convicções.”. Mais a frente na mesma mensagem, ele chama esses homens de seus “amigos bons e reverentes [que] podem fazer uma diferença enorme na crença que essa geração nova e a próxima acreditam sobre esse movimento”.


Numa outra sessão, depois de ter se referido a Wayne Grudem e John Piper como irmãos no Senhor, MacArthur falou isso sobre Piper:


“Eu conheço o grande acervo de trabalho de John Piper e ele corresponde a verdade da fé. John é um amigo o qual eu não apenas admiro mas o qual amo. Eu não sei porque nesse assunto ele tem essa idéia aberta, mas não é um posição que é defendida pelo movimento, e ele se juntaria a nós em condenar os excessos desse movimento e mesmo a teologia desse movimento. [...] Eu não tenho medo que John jamais fosse mexer com nada que é essencial à fé cristã, começando pela teologia própria indo até o retorno de Cristo. Ele será fiel à palavra como ele a compreende.”


Portanto, enquanto que ninguém voltaria atrás nas suas declarações que mesmo a maioria do movimento carismático mundial consiste de não-crentes que necessitam serem evangelizados, tais declarações de forma alguma significam que MacArthur ou algum dos outros palestrantes da Conferência acreditam que bons homens como Grudem ou Piper estão fora da ortodoxia, ou que ninguém que acredita em qualquer forma da teologia carismática são crentes verdadeiros. Insistir no contrário é perpetuar um mito e grandemente deturpar o que foi dito durante a Conferência.


Mito 3: John MacArthur acredita que absolutamente nada de bom tenha saído de dentro do movimento carismático


Esse mito final (quero dizer, o mito final sobre o qual eu escreverei, infelizmente não o mito final que está pela internet) traz referências específicas aos comentários de MacArthur na sessão de abertura da Conferência Fogo Estranho. Respondendo a essa sessão, Adrian Warnock acusa MacArthur de “totalmente rejeitar” (a) grandes músicas de adoração como por exemplo “In Christ Alone”, (b) trabalhos extupendos de teologia como representado na Teologia Sistemática de Wayne Grudem, (c) e da pregação abençoada de John Piper.


Tal acusação é inteiramente sem fundamento, e parece propositadamente ignorar o que MacArthur verdadeiramente falou na referida sessão. Aqui está o ponto relevante:


“Estou eu desacreditando todos no movimento? Não. Eu penso que existem pessoas que desejam adorar a Deus de forma verdadeira. ... Mas o movimento em si não oferece nada que enriqueça verdadeira adoração. O movimento carismático como tal não tem feito nenhuma contribuição à claridade bíblica, interpretação, ou doutrina sólida. ... Alguns no movimento acreditam em verdades? Sim. Mas nenhuma dessas verdades chegaram à eles através desse movimento. Os verdadeiros entendimentos têm sempre estado na longa lista de pregadores e professores que Deus tem usado para guardar a igreja e a verdade no caminho certo. O movimento adiciona nada a isso. Ele desvia a atenção e confunde. não é fonte para nenhum avanço do nosso entendimento das Escrituras ou doutrina sólida.


Está claro que MacArthur não declarou que absolutamente nada de bom existe através de todo o movimento carismático. Pelo contrário, ele está falando que o bom existe – o qual inclui o fato dele acreditar que pessoas têm sido realmente salvas através dos esforços evangelísticos desse movimento, e outras coisas como a Teologia Sistemática de Grudem e a pregação de Piper – todos esse bens que têm vindo do movimento apesar do movimento em si, e não por causa dele. Ele continua dizendo exatamente isso um pouco para a frente:

“Existem pessoas que têm sido verdadeiramente salvas em igrejas carismáticas? Sim. Mas nada vindo desse movimento tem sido a razão pela qual eles foram salvos. ... Sim, existem pessoas nesse movimento que conhecem e amam a verdade, têm um Evangelho ortodoxo mas são heterodoxos quanto ao Espírito Santo. Nem todos eles são heréticos. Mas eu digo novamente, a contribuição sobre a Verdade vindo de pessoas nesse movimento não vem do movimento em si, mas apesar dele.

Portanto, o ponto não é que nada de bom pode ser encontrado dentro do círculo que í remotamente associado com a teologia carismática. Ao contrário, o ponto é que a teologia carismática como tal não é a responsável pelo bom dentro do movimento. O bom tem vindo apesar da teologia carismática, e não por causa dela. Isso está muito longe do que afirmar que nada de bom existe nesse movimento. Insistir o contrário disso é perpetuar um mito.


Um apelo aos meus amigos continuistas


Portanto, com tudo isso em mente, eu gostaria de fazer um apelo aos meus amigos carismáticos e continuistas. Senhores, se querem ser levados a sério por cessacionistas em suas reações à Conferência Fogo Estranho – e mais do que isso: se querem fazer a sua devida aplicação em “preservar a unidade do Espírito em acordo com a paz, poderiam por favor desistir de perpetuar esses e outros mitos sobre John MacArthur e a Conferência Fogo Estranho?

Eu sei que que certas coisas que foram ditas foram bem fortes. Eu consigo mesmo entender porque alguns pensariam ser a nossa crítica forte demais – especialmente nossos irmãos reformados e evangélicos carismáticos conservadores. Eles são nossos aliados em muitas batalhas, e talvez estivessem esperando que os tivéssemos visto como isentos na nossa avaliação da doutrina carismática. Eu sei que ao declinar tratar o assunto dessa forma magoamos alguns, mas não temos nenhum prazer em fazê-lo. Verdadeiramente, eu consigo empatizar com muitas decepções de meus amigos carismáticos. Mas somos obrigados pela consciência e pelas Escrituras à não minimizar erros que acreditamos serem muito sérios e construídos dentro da perspectiva continuista. Gostaríamos de focalizar nesse ponto, e não em pontos de estilo ou personalidades. Você faria sua parte no progresso de uma narrativa honesta abordando a substância da argumentação bíblica que foi trazida pela Conferência Fogo Estranho, ao invés de sensacionalizar excertos tirados de seus contextos que procuram apenas colocar veneno no poço?

Vamos colocar os mitos de lado.

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Original pode ser encontrado aqui.
Traduzido por Elaine Bittencourt C.
Qualquer mudança no texto deve ser comunicada diretamente com o autor. Compartilhamento do texto é encorajado desde que sejam mencionados o site original e o da tradução. Obrigada.

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